Amanda Pieranti
Seu filho segue, nas redes sociais, algum dos perfis da Explana? São contas criadas para postar ofensas. Essa é mais uma ameaça à saúde mental dos jovens
O bullying chegou à era digital. Agora, a prática constante de violência física e psicológica, feita de maneira intencional por uma pessoa ou um grupo contra alguém, alcançou as redes sociais por meio do perfil Explana. Tal ação coloca a sociedade em alerta sobre os impactos diretos na saúde mental das vítimas, que podem até cometer suicídio. Criada, sobretudo, no Instagram, mas já presente no Facebook e Twitter, além de expor fofoca, a página se propõe a difamar pessoas.
Andrea Ladislau, psicanalista e psicopedagoga, lembra que, fora da rede social, o bullying já é uma tragédia e um crime, seja de qual natureza for. No mundo virtual, piora. “Porque, nas redes sociais, toma uma proporção gigantesca, principalmente quando essa ação é promovida por meio da imagem difamada. Esse é o caso do Explana, que tem características de um ato perverso e desumano; uma agressão violenta e que estimula o emocional e psíquico da vítima de maneira devastadora”, alerta.
O Explana traz, portanto, grande impacto para a saúde mental de suas vítimas, pois produz sérias deficiências para a vida. “É um problema social grave e pode surgir em qualquer ambiente, com efeitos de curto ou longo prazo, ocasionando um total desequilíbrio da relação interpessoal dos envolvidos.”
Andrea Ladislau, que possui especialização em psicopedagogia e inclusão digital, comenta os impactos negativos do cyberbullying. “Podemos observar que a criança ou o jovem que sofre o bullying na web pode apresentar sintomas de insônia, reações psicossomáticas, medo, angústia, insegurança, dificuldade de interação com o outro, déficit de atenção e, nos casos mais graves, sintomas depressivos de alta grandeza, desencadeando transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico e até levar ao suicídio.”
Saiba como agir
É fundamental que os pais/responsáveis estejam atentos ao que os jovens estão vivenciando nas redes sociais. “O acompanhamento social e psicológico também pode fazer muita diferença para conter ações e pensamentos negativos oriundos de ataques. Além disso, é preciso promover o diálogo a fim de que o filho se abra com os pais sem ter medo ou receio de dizer que está sofrendo tal violência. Dependendo da idade, o ideal é limitar alguns acessos e estar sempre alerta para saber com quem o filho está falando e quais assuntos são trocados”, orienta a psicanalista.
Ela ressalta a necessidade de os pais ou responsáveis estarem cada vez mais perto dos filhos. “É preciso estar próximos deles, sabendo acolhê-los, orientá-los, conversar com eles, tirar suas dúvidas e se colocar à disposição quando algo estiver saindo do controle. Oferecendo uma escuta ativa até para identificar se o filho está ou não sofrendo o bullying. Quem vive sob a mão opressora desse tipo de violência pode se fechar para o mundo e se tornar mais introvertido do que o normal. A pessoa se cala, não consegue ter espontaneidade, nem interagir com leveza, deixa de ter opinião própria, porque o medo a impede de se posicionar, e se torna mais sensível a toda e qualquer situação. Além de ficar preso aos traumas e sintomas decorrentes dessa agressão, já que sua autoestima fica abalada, principalmente se estiver sendo agredido por questões que possam vir a ferir sua conduta e reputação”, argumenta Andrea Ladislau.
Faça um boletim de ocorrência
O advogado criminalista Filipe Roulien orienta as vítimas a procurar uma delegacia e fazer o registro de ocorrência, bem como solicitar a suspensão da página. “Independentemente de você saber ou não quem fez os ataques, pois o delegado de polícia tem o poder de requisição dos dados cadastrais para saber de quem é aquele perfil. Além disso, a Lei de Marco Civil da Internet prevê a possibilidade de suspensão do aplicativo pelos provedores.”
A Lei do Marco Civil prevê princípios que regulam o uso da internet no Brasil. Dentre vários tópicos, estabelece a possibilidade de fornecimento de dados privados, se forem requisitados por ordem de um juiz, sendo o responsável pela guarda dos dados obrigado a disponibilizá-los se houver requisição judicial.
O especialista em Penal e Criminologia pela PUC/RS sugere verificar se há elementos injuriosos nos ataques. “Ou seja, que ataquem a honra subjetiva da vítima, porque podem ter várias qualificações, caso esteja relacionado à raça, religião ou orientação sexual, por exemplo. E, se estiver imputando um falso crime à pessoa, teremos ainda uma calúnia.”