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Valorização de profissionais acima dos 50 anos exige superação de desafios e novas capacitações
Amanda Pieranti
Se você tem 50 anos ou mais e pensa em uma recolocação profissional, anime-se! Os prognósticos são bons. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Previdência, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2006, profissionais nessa faixa etária representavam 12,6% dos postos ocupados. Em 2020, esse índice passou para 19%. Em números, houve um salto de 4,4 milhões para 8,7 milhões de trabalhadores nesse período.
Desafios
Por um lado, esse crescimento reflete o aumento do contingente de brasileiros com mais de 50 anos na ativa, passando de 34 milhões para 54 milhões entre 2006 e 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão projeta ainda, para 2060, o triplo no número de pessoas acima de 65 anos, chegando a 58 milhões (25% da população). Por outro lado, os desafios são grandes.
Segundo Cristina Sabbag, CDO (chief diversity officer) e sócia e principal research da Talento Sênior – empresa do grupo Talento Incluir –, esse mercado de trabalho é, geralmente, mais desafiador para quem está nessa faixa etária do que para os mais jovens. “Isso ocorre por vários motivos, como ageísmo, que é o preconceito por idade, e a suposição de que esses profissionais podem ser menos adaptáveis às novas tecnologias e aos métodos de trabalho, dentre outros fatores. No entanto, com a pandemia de covid-19 e a expansão do trabalho remoto, criaram-se oportunidades para os mais experientes trabalharem em casa e se conectarem com equipes virtuais em todo o mundo”, explica Cristina.
Profissões que mais têm absorvido mão de obra a partir dos 50 anos:
Desenvolvedores de softwares e engenheiros de dados, profissionais das áreas de saúde, inteligência artificial e aprendizado de máquina, atuantes em energias renováveis (engenheiros solares e especialistas em energia eólica) e de marketing digital.
Segundo Cristina Sabbag, outra opção seria buscar colocação em vagas em que as habilidades comportamentais estejam mais desenvolvidas: “São as soft skills, que têm sido bastante valorizadas pelas empresas: capacidade de comunicação e resolução de problemas, trabalho em equipe, adaptabilidade, liderança e inteligência emocional”.
A especialista, que também é mestre em Gestão para Competitividade pela Fundação Getúlio Vargas, recomenda ao público sênior atualizar suas habilidades e seus conhecimentos não só em áreas relacionadas ao que faz, mas também nas emergentes. “É preciso se manter atualizado e, quando possível, considerar a reconversão profissional em áreas de maior demanda. Também pode ser útil construir uma rede de contatos e procurar oportunidades de mentoria para compartilhar experiências e acompanhar as tendências do mercado de trabalho.”
Portanto, quando a pessoa participa de cursos, workshops e programas de treinamento, o currículo melhora. “Minimamente, você precisa saber usar adequadamente as ferramentas de reunião on-line, como Zoom, Teams e Meeting. Dominar os serviços de colaboração e armazenamento, como Drive do Google e OneDrive da Microsoft, que são os mais usados, além de Trello e Pipedrive. É interessante ter conhecimento de algumas ferramentas de criação, como Canva, e de pesquisa, como o Google, pois isso é valioso”, aconselha a CDO da Talento Sênior.
De acordo com Lisiane Wolff, CEO da Cinquentarh, as empresas só têm a ganhar com um profissional 50+: “São referências de conhecimento, pois podem ser mentores nas empresas. Também se enquadram bem em cargos de gestão das áreas em que atuaram na jornada profissional”.
Experiência e cursos foram fundamentais
O gerente financeiro, Antonio Pereira Abbade, conseguiu sua recolocação em regime de CLT há um ano. “Como o mercado estava difícil por causa da idade, comecei a atuar como consultor, sendo pessoa jurídica, e, para me atualizar, fiz cursos, principalmente em ferramentas digitais de trabalho.”
Hoje, ele está realizado. “Sempre enviava currículo para as empresas onde eu tinha vontade de trabalhar. Nessa, pela qual fui contratado, estavam à procura de um sênior que pudesse controlar e agilizar o processo financeiro. Minha experiência de 28 anos de controladoria em grandes bancos foi fundamental para ser chamado.”
Outras atitudes importantes
Atualizar o currículo: destacando suas habilidades e experiências para o cargo que busca.
Usar as redes de contato: explorando oportunidades, pedindo recomendações e obtendo informações sobre empresas e setores de interesse.
Ter presença digital: esteja nas redes sociais profissionais, como LinkedIn, para construir e expandir sua rede de relacionamento, compartilhar conteúdo relevante e interagir.
Saber pesquisar: sobre empresas e setores de interesse, a fim de se preparar para entrevistas e demonstrar conhecimento.
Proatividade: entre em contato com empresas e recrutadores e manifeste sua vontade de trabalhar, apresentando-se como candidato qualificado.
Flexibilidade: esteja aberto a atuar em regime de meio período, freelance e outras formas de trabalho.