Ganhe dinheiro como intérprete da língua brasileira de sinais. O mercado está de olho nesse profissional que trabalha com inclusão social
Amanda Pieranti
No Setembro Azul, mês dedicado aos surdos, o dia 23 foi declarado, pela Organização das Nações Unidas (ONU), Dia Internacional das Línguas de Sinais. O objetivo é promover a inclusão e melhorar a acessibilidade desse público. Diante disso, fazemos uma reflexão: “Você sabe se comunicar com essas pessoas?”. Caso a reposta seja negativa e haja interesse seu em se profissionalizar como intérprete de libras, a hora é essa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até 2050, 900 milhões de seres humanos desenvolvam surdez. No Brasil, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, 5% da população não escuta, ou seja, 10 milhões de pessoas. Números que tendem a aumentar, pois, a cada dez anos, o órgão faz novo mapeamento. Contudo, devido à pandemia de covid-19, a pesquisa ficou atrasada.
Há mais de 300 variantes da língua de sinais no mundo, responsáveis por boa parte da comunicação de quem não ouve. No Brasil, temos a língua brasileira de sinais (libras), reproduzida por meio de gestos, expressões faciais e corporais, possuindo uma estrutura linguística e gramatical e um alfabeto próprios.
Marcelo de Brito Silva, conhecido como Marcelo Guti, cofundador do Instituto Mãos Que Cantam, ressalta que a profissão de tradutor-intérprete de libras/português está cada vez mais em alta. “As pessoas têm se conscientizado sobre a importância de cumprirmos a legislação e atendermos às necessidades dos surdos. Acessibilidade é direito garantido, conquistado por diversas leis que regem nosso país, em espaços que vão desde hospitais e órgãos públicos até instituições privadas, de ensino, entre outras.”
Marcelo trabalha também como professor e intérprete de libras e sinaliza onde está a demanda dessa carreira: “Temos muita procura para interpretar diversos assuntos, nos mais diferentes contextos, pois é um serviço de comunicação necessário em todos os lugares. Durante e depois da pandemia, a procura cresceu exponencialmente, pois tudo se digitalizou, e a acessibilidade em lives, reuniões, treinamentos corporativos, recrutamento e seleção se tornou necessária.”
Formação exigida do profissional
Segundo Marcelo Guti, para trabalhar como intérprete de libras freelance, é necessário ter proficiência linguística e experiência. “Um curso de libras nível médio atende à exigência da vaga. Mas manter contato com a língua, praticando sempre, é igualmente importante.”
Se for um concurso público para trabalhar como intérprete, em uma universidade ou instituição, cada vaga terá sua especificidade ou exigência. “Porém, muitas exigirão graduação em Letras-Libras bacharelado e/ou pós-graduação em Tradução e Interpretação. Depende de cada edital”, orienta.
Além disso, é essencial se capacitar de forma extralinguística: “Conhecer e estudar tudo – religiões, política, movimentos sociais, saúde, área acadêmica etc.”
Marcelo Guti ressalta outros valores para quem está se capacitando no ramo. “É preciso ter ética, confidencialidade, imparcialidade e fidelidade ao transmitir os conteúdos, ser apartidário durante a atuação, ter postura, discrição, boa desenvoltura, saber se expressar, desenvolver agilidade comunicacional e ter boa expressão facial e corporal.”
Remuneração
O professor do Instituto Mãos que Cantam lembra os valores pelos quais o profissional de libras é remunerado, conforme a tabela da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais – Febrapils: “Para intérprete de libras, existe a remuneração freelance por hora: de R$ 50,00/h até 700,00/h”. Se for remuneração mensal, os valores mudam. “Por mês contratado, varia de R$ 1.400,00/mês até 5.500,00/mês, por período.”
Auxílio a pacientes no trabalho
Roseli dos Santos Teixeira é enfermeira bilíngue. Ela desejava aprender libras, pois tinha contato com a língua em família. “Tenho um primo surdo e me comunicava com ele usando gestos soltos, mas achava muito bonito ver seus pais e sua irmã falando com ele por meio da libras.”
A oportunidade de fazer um curso aconteceu em 2017. “Conclui os três níveis: básico, intermediário e avançado, em uma formação que durou três anos, no Instituto Mãos que Cantam. Hoje, consigo me comunicar bem com a comunidade surda e mantenho contato com essas pessoas, para que a prática seja constante.”
Trabalhando em um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde pessoas com algum tipo de transtorno mental realizam tratamento com uma equipe multiprofissional, Roseli atende duas pacientes surdas. “Auxilio na comunicação entre elas e a equipe, principalmente em consultas médicas, pois não pode haver erros ou dúvidas entre as partes.”