Amanda Pieranti
Foto: Divulgação
O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é 10 de setembro. No entanto, os números da OMS revelam que são necessários esforços, o ano inteiro, para mudar uma triste realidade: 1 milhão de pessoas cometem suicídio anualmente em todo o planeta – uma a cada 40 segundos. E, pelo menos, 10 milhões já tentaram abreviar a própria vida. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, essa é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
O Ministério da Saúde alerta que, no Brasil, a taxa de suicídio aumentou gradativamente entre 2000 e 2016: o número de casos passou de 6.780 para 11.736, representando uma alta de 73% nesse período. A OMS aponta que a maioria das pessoas que toma essa atitude, entre 80% e 90%, enfrenta algum transtorno mental. “Se existir uma predisposição ao comportamento suicida, certos fatores – como crises, separações, mudanças abruptas, luto, decepções, violências, exclusões, exposição, humilhações e depressão – podem contribuir para piorar o comportamento e o aumento do risco de o indivíduo querer acabar com própria vida”, adverte a psicóloga Aline Gomes.
Projeto Feliz como um importante aliado
O conferencista e cantor da Graça Music, Douglas Borges, tem sido presente no enfrentamento ao suicídio. Ele criou o Projeto Feliz e, desde 2008, desenvolve um trabalho de prevenção, por meio de um conjunto de ações, entre elas, palestras que chamam a atenção para a campanha de luta contra a depressão, a ansiedade e o suicídio nas escolas, a fim de combater problemas emocionais de crianças e adolescentes.
“O objetivo é conscientizá-los sobre os cuidados para não chegarem ao extremo. Dentre muitos fatores que levam uma pessoa a se matar, a dependência em drogas se destaca na faixa etária de 15 a 35 anos. Assim, temos de estimular essa geração a se afastar desse caminho. É importante criar um vínculo entre pais, professores e alunos”, destaca.
Movido pela empatia, Douglas decidiu agir: “Um dia, vi um noticiário sobre uma pessoa que se matou. Então, clamei a Deus, para que me usasse nessa área, e Ele me ouviu. Fui a um culto e encontrei um moço sentado no banco da Igreja. O Altíssimo me revelou que ele queria se matar. Foi quando o ministério surgiu.”
Douglas salienta que os frutos desse trabalho são extraordinários: “Em 15 anos, mais de 30 mil pessoas foram libertas. Percorremos centenas de escolas, em mais de 14 estados brasileiros e em 8 países, entre eles, Portugal, Inglaterra, França e Espanha. No mês passado, estive em três estabelecimentos de ensino em Roraima, e 200 alunos se manifestaram com desejo suicida. Grande parte foi liberta”, recorda-se o artista.
A convite do Pr. Rogério Postigo, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus no Rio de Janeiro, Douglas pretende levar o projeto para todos os templos da IIGD no Brasil. “Além de em cada Igreja local, continuaremos esse trabalho nas escolas. Nesses espaços, a recepção dos professores e dos pais tem sido a melhor possível. Para eles, o assunto é novo, porque não conseguem visualizar um suicida, mas, com minha palestra e meu direcionamento, eles começam a ter um olhar mais profundo sobre a situação.”
IIGD na batalha para salvar vidas
A Igreja da Graça tem atuado na recuperação de jovens. O Pr. Rogério Postigo está acertando os detalhes finais do projeto Ainda Não é o Fim. Além da evangelização nas ruas, haverá palestras nos colégios sobre depressão, ansiedade e suicídio, nos moldes do que é feito pelo cantor Douglas Borges.
O pontapé inicial foi dado em julho, durante uma vigília na IIGD no bairro de Madureira (RJ), que reuniu 1.200 moças e rapazes. Durante o encontro, além de cantar, Douglas falou a respeito do assunto em questão e ministrou uma Palavra. “Ao final, orei por pessoas com desejo de suicídio, e cerca de cem jovens foram à frente do altar, sendo libertos ao entregarem sua vida ao Senhor”, lembra-se.
Na ocasião, o Pr. Rogério Postigo se reuniu com pais e educadores para falar sobre o tema. “Há um vazio muito grande em nossa juventude. E, se não cuidarmos disso, o que será dela? Quantos cometem esse ato? Quantos vivem momentos difíceis em casa e não têm estrutura, condições espirituais nem emocionais de enfrentar as adversidades? Eles se desesperam achando que a solução é o suicídio. Mas essa jamais será a saída”, refletiu o pastor.
Em sua pregação, Postigo se lembrou do Salmo 31, versículo 9: Tem misericórdia de mim, ó Senhor, porque estou angustiado; consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu corpo. “Essa passagem fala sobre suicídio e depressão, esse turbilhão de sentimentos que o diabo lança nas pessoas, querendo destruí-las. A tristeza atua em todas as áreas. Jesus disse, em Mateus 6, versículos 22 e 23, que nossos olhos são a candeia do corpo. Se eles forem bons, nosso corpo terá luz. Se forem maus, estaremos em trevas.”
Postigo ressaltou que o primeiro ato do inimigo é mexer com a visão da pessoa inclinada ao suicídio, consumindo-a pela melancolia: “Pode estar um dia lindo, mas ela não quer ver nada. Não podemos permitir que o desânimo nos consuma”, adverte.
O pregador ressaltou que só a tristeza capaz de nos fazer reconhecer o pecado é positiva: “É aquela que sentimos quando erramos, pois faz com que nos arrependamos e andemos no caminho certo. Esse sentimento é produzido por Deus. Quando Ele nos convence do pecado, da justiça e do juízo, como lemos em João 16.8, somos levados ao arrependimento.”
Deus Se importa com você
O Pr. Rogério Postigo acrescentou que o diabo faz as pessoas acharem que Deus não Se importa com elas. “É preciso clamar ao Senhor. DEle vêm o socorro e a recompensa. A quem O buscar Ele dará a solução. Em Tiago 5.13, está escrito: Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. Essa é a saída.”
Por fim, o pastor declarou que toda aflição tem um prazo para terminar. “O livro de Apocalipse fala que o tempo da tentação não dura eternamente. Então, pense: tenho de vencer o desejo suicida. Minha vontade de fazer algo ruim não será permanente. Se você vence esse tempo, consegue derrotar o momento ruim.”
Teatro pedagógico como auxílio na recuperação
Ao observar seus alunos, a professora Jéssica Bruna de Sousa Gonçalves descobriu o quanto eles precisavam de ajuda. “Eu observava muitos de cabeça baixa, com fone de ouvido, jogando. Eles faziam tudo, menos assistir à aula. Comecei a conversar com cada um e descobri a bagagem que eles carregavam: pais separados, abuso sexual, violência doméstica, rejeição, entre outras situações. Muitos deles com tendência suicida”, lembra-se.
Jéssica usou a parte pedagógica para trabalhar o emocional deles e recuperá-los, não só da reprovação escolar, mas também do estado psicológico em que se encontravam. Assim nasceu, há pouco mais de quatro anos, a Cia Teatro TAT. “Estudo técnicas pedagógicas de grandes nomes europeus, que usaram o teatro e os jogos teatrais para obter melhorias no comportamento e rendimento escolar dos estudantes. Os ensinamentos bíblicos também são a base do nosso trabalho. Por meio de parábolas, usamos exemplos atuais para fortalecer com o nosso ensino.”
Durante três anos, a Cia TAT atuou em escolas e igrejas parceiras, usando o teatro e a música para evangelizar a juventude da região. “Atualmente, realizamos ações no Colégio Estadual Olinto da Gama Botelho, em Pilares (RJ), e na ONG Atos e Atitudes. Além disso, ministramos palestras, eventos e apresentações em diversos lugares”, afirma Jéssica.
O projeto ajudou a recuperar em torno de cinco mil alunos. “Só com o atendimento individual, auxiliamos cerca de 400 jovens que pensavam em suicídio, estavam em depressão ou praticavam automutilação. Uma delas foi Fernanda Pacheco Silva, 23 anos, designer do projeto, que eu conheci aos 19. Depressiva, ela desejava tirar a própria vida e era repetente do terceiro ano do Ensino Médio. Após participar da primeira turma da oficina no colégio, foi transformada.”
A experiência e o trabalho de Jéssica, membro da IIGD em Irajá (RJ), liderada pela Pra. Gorete Moura, podem ser uma força para o projeto Ainda Não é o Fim, idealizado pelo Pr. Rogério Postigo. “Esse líder tem levantado, ao lado da esposa, Christiane Postigo, uma equipe que intercede pela juventude e realizará atividades nas escolas. Estamos definindo como vamos ajudar, pois a ideia é ampliar o trabalho”, afirma Jéssica.
Atenção aos sinais
Segundo um estudo do Centro de Valorização da Vida (CVV), 90% dos suicídios podem ser evitados quando a pessoa conta seu problema e busca apoio. No entanto, há um mito de que os indivíduos que falam em suicídio só o fazem para chamar a atenção e não pretendem cometer o ato.
“Quando alguém fala sobre suicídio, está pedindo socorro. Não ignore”, observa a psicóloga Aline Gomes. “Quando uma pessoa expressa, em voz alta, o desejo de se matar, aquele pensamento é recorrente. E, mesmo que você ache que ela seja incapaz de realizá-lo, entenda que tais palavras são um pedido de auxílio.”
Caso não haja a verbalização do desejo suicida, é importante identificar os sinais dessa tendência, como orienta a terapeuta. “São eles: isolamento social, desinteresse pelas atividades que antes causavam prazer e autoestima, alteração na alimentação e no peso, sono desregulado, mudança de humor, tristeza, agressividade ou apatia.”
Inicie o tratamento logo
A especialista Aline Gomes recomenda que os pais ou responsáveis busquem acolhimento profissional. “O suporte de um psiquiatra e de um psicólogo é fundamental para entender as causas do problema e iniciar o tratamento.”
O apoio espiritual é igualmente importante nesse momento: “O amparo divino é reconfortante. Eu sugiro aos meus pacientes que cultivem a fé em meio à angústia. Precisamos cuidar do espiritual, do emocional e do físico, para mantermos a qualidade de vida e a saúde mental”, conclui Gomes.
O amor de Cristo a salvou
“Fui diagnosticada com depressão dos 13 aos 14 anos. Na época, eu não conhecia a Cristo e experimentava pensamentos e desejos suicidas. Os gatilhos para isso eram acionados quando eu brigava com meus pais, ou quando algo ruim acontecia. Minha mãe era ausente, e cresci revoltada. Eu descontava os problemas no meu corpo, assim me cortava e me machucava. Tentei me matar tomando uma cartela de comprimidos. Fui ao psicólogo, mas, como tinha medo de ficar dependente de antidepressivos, parei o tratamento. Quando minha mãe se converteu, comecei a frequentar a Igreja com ela. No início, ia forçada, porém, aos poucos, conheci Jesus e entendi a Palavra. Em um culto de jovens, tive um encontro real com Cristo. A pregação foi sobre depressão, e me emocionei muito. O desejo de morrer passou, pois compreendi o quanto Jesus me amava. Quanto mais queria conhecê-Lo, menos vontade sentia de me ferir ou tirar minha vida. Cristo me libertou, e hoje minha mãe é minha melhor amiga.”
Maria Vitória Viana de Oliveira, 17 anos, estudante e membro da sede da Igreja da Graça em Porto Alegre
2 Comments
Mais uma vez uma matéria brilhante, esclarecedora, se antecipando ao mês de conscientização. Muito importante esse tema está sempre em pauta. Parabéns pela belíssima e completa matéria.
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