Amanda Pieranti
“Ninguém gosta de mim”. “Mereço morrer”. “Sou ruim em tudo mesmo”. “O que faço dá errado”. Essas são algumas falas observadas pela psicóloga Daniele Vanzan, quando atende meninos e meninas que sofrem de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Segundo ela, estudos mostram a existência de 3% a 5% de crianças, no mundo, vítimas do distúrbio. “O sofrimento emocional delas é grande. Em geral, são incompreendidas pela sociedade, que enxerga os sinais do problema como traços da personalidade”.
Com experiência de 20 anos na terapia infantil, a profissional afirma ser o TDAH um distúrbio neurobiológico – que afeta a parte do cérebro responsável pelo desenvolvimento –, de causas hereditárias, embora não seja fator determinante, originário na infância, podendo perdurar na fase adulta. É caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. “As crianças, vítimas do transtorno, mal conseguem ficar paradas. Estão constantemente elétricas”.
De acordo com Daniele Vanzan, elas ficam sempre com as mãos e os pés agitados. “Costumamos dizer que a ‘pilha’ delas é inesgotável. Geralmente, falam demais, interrompem as perguntas e se intrometem nas conversas, pois são ansiosas. Não sabem esperar, furam fila e ‘atropelam’ os colegas, gerando problemas”.
Esse traço da impulsividade também se traduz em irritabilidade, principalmente na escola, ressalta a psicóloga: “Elas respondem, ou se tornam agressivas, e artem para cima de coleguinhas e até de autoridades, como o professor. Assim, o distúrbio provoca disfunções na aprendizagem e interação social, criando dificuldades de convivência”.
Identificação do transtorno
Embora surja antes, o transtorno é mais fácil de ser comprovado na fase escolar, quando ocorre dificuldade de aprendizado. “É um diagnóstico difícil, porque as crianças são inteligentes, e isso pode deixar dúvida se realmente existe um déficit cognitivo. E, devido ao temperamento, elas acabam sendo castigadas e criticadas pelos pais, ou na escola, pois o hiperativo, muitas vezes, é visto como indisciplinado”, explica a profissional.
Ela ressalta a importância de um acompanhamento com psicólogo, neuropediatra ou psiquiatra quando os pais perceberem algo estranho no comportamento do filho. “Quando a criança não é hiperativa e se interessa por algo ou alguma atividade, ela se senta para desenhar, assistir a um filme, por exemplo. Já quem tem o transtorno não consegue fazer isso, mesmo tendo interesse. E, se conseguir, vai ficar se sacudindo, mexendo os pés, as mãos, em sinal de inquietação”.
A psicóloga alerta que, se negligenciado, o TDAH pode gerar outras consequências ao pequeno. “Na falta de um diagnóstico correto, a criança pode sofrer bullying, ter depressão e até se tornar mais agressiva, para se proteger, pois quem tem o transtorno é bastante incompreendido e criticado”.
Filho foi tachado de louco
Glória Luiza dos Santos Conceição Ribeiro começou a desconfiar da hiperatividade do filho Gabriel dos Santos quando o garoto tinha quatro anos. “Ele chorava intensamente e não dormia bem. Estava sempre agitado e dependia de mim em excesso. Eu fazia o serviço de casa correndo para ter tempo de cuidar dele”.
Além de TDAH, Gabriel sofria de epilepsia e usava vários remédios controlados: “Meu filho chegou a tomar três tipos de medicamentos por dia. Uns o deixavam mais agitado, e outros, dopado. Nunca deram resultado positivo. Eu ficava triste em vê-lo daquele jeito”.
O menino sofria demais na escola. “Eu era chamada ao colégio uma vez na semana, porque ele desconcentrava a turma. Ele chorava e não conseguia aprender. Explodia por nada! Se fosse contrariado pelas professoras, ficava agressivo. Batia nos amiguinhos, mas, depois, arrependido, pedia perdão”.
O garoto ficava aflito com aquela situação, dizia não querer se comportar daquela maneira e perguntava à mãe: “Por que eu sou assim?”, deixando-a sem resposta. “Até de louco Gabriel foi tachado. Ele era discriminado e sofreu com isso. Certa vez, na frente da turma, uma professora substituta afirmou não entender por que eu dava remédio de tarja preta ao meu filho, se era ineficaz. Ele ficou mais nervoso ainda e partiu para cima de todos. Fiquei revoltada e reclamei com a Diretoria”.
Contrariou os prognósticos
Glória vivia em clima de tensão. “Sentia-me angustiada. Queria vê-lo bem, mas os especialistas não me davam essa garantia. Um deles chegou a falar que Gabriel nem completaria os estudos. Se terminasse a quarta série, era para eu dar graças a Deus. Para esses profissionais, era impossível que ele convivesse em sociedade”.
A literatura médica aponta o TDAH como transtorno incurável, porém, firmada em Deus, Glória acreditava na reversão do quadro. Evangelizada, passou a participar dos cultos na Igreja da Graça determinando a bênção.
Além disso, assistia à programação da IIGD na TV e se fortalecia com os testemunhos dos patrocinadores da obra do Senhor. “Decidi ser patrocinadora em prol da saúde da minha família, e Jesus abençoou meu filho. Assim, o comportamento dele mudou totalmente”.
De acordo com a mãe, Gabriel, hoje com 15 anos, é um rapaz tranquilo e amoroso. “Ele ainda estuda na mesma escola. Porém, agora se dá bem com professores e alunos, sendo querido até por quem zombava dele. Além disso, fez curso de Informática e de Bombeiro, profissão que deseja seguir. Então, vejo a cura no meu filho”.
Acolhimento, transparência e tratamento
O acolhimento que Glória deu ao filho é o melhor caminho a ser escolhido, conforme sugere Daniele Vanzan. “Os responsáveis não devem se sentir culpados por terem filhos assim nem rejeitá-los. Existem vários caminhos a percorrer para lidar com esse quadro, e o quanto antes começar a percorrê-los minimizará os sofrimentos”.
A psicóloga aconselha dividir o diagnóstico com a criança. “Ela precisa saber o que tem e que pode contar com a ajuda dos responsáveis para enfrentar a situação. Afinal, vê no pai, na mãe ou no cuidador seu porto seguro”.
Segundo Daniele Vanzan, o bom convívio com um hiperativo depende das seguintes atitudes:
Fale olhando nos olhos dele para fixar a atenção.
Converse com calma.
Passe uma tarefa por vez, sem deixá-lo se embolar.
Paciência e respeito previnem traumas.
Evite criticá-lo.
Faça uma lista de tarefas para ele cumprir e cole em um local de fácil visualização.
Coloque-o para praticar exercícios de manhã, reeducando o excesso de energia nos momentos adequados. Com isso, é possível controlar a impulsividade e agressividade dele.
4 Comments
Que matéria amigos! Eu tenho certeza que este conteúdo, esclarecerá a muitas famílias .
Assunto super importante e abordado de forma maravilhosa nessa matéria. Parabéns!
Excelente matéria! Parabéns à todos! É um tema super relevante e que precisa sim estar em destaque sempre.
Eles de fato sofrem muito e é muito importante eles saberem que podem ser curados e ter essa liberdade!!!só quem conhece o transtorno e vive com este sabe como é difícil.sempre e bom saber que tem uma luz no fundo do poço.